O célebre conjunto de gravuras “Apocalipse” de Albrecht Dürer (1471 – 1528) revela uma atmosfera de descrença. Como o mundo se aproximava de 1500, muitos acreditavam que a Terra estava com os dias contados.

Umberto Eco reconheceu a possibilidade de novos olhares sobre a Idade Média; hoje, porém, a atmosfera social brasileira nos leva a uma paradoxal sensação de descrença no futuro.

A explicitação de inúmeros retrocessos após um período de avanço democrático ainda cerceia a plena realização artística, mas essa incredulidade não intimida Clara Cavendish, Juliano Guilherme, Nilton Pinho e Otavio Avancini.

“Arte não é adorno, palavra não é absoluta, som não é ruído, e as imagens falam” disse Augusto Boal. E todos os quatro artistas estão lidando com a arte. Antes da intenção, quer seja ela política ou não, a arte se afirma.  

E Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse aqui se reafirmam e também celebram uma longa amizade amadurecida nos ateliês do Casarão da Lapa. Como diz Otavio Avancini, fluente no uso da cor e do gesto, “todos assumem múltiplas linguagens nesta coletiva concebida como uma grande instalação barroca e elegem Bukowski como poética inspiradora”.

Nilton Pinho segue uma tradição brasileira da assemblage com a série “Bancada de Camelô”, uma aposta no efêmero cuja verdade se articula ao caos urbano. Ao seu lado, Juliano Guilherme revela a conotação visceral de sua pintura Hiperexpressionista e traz um São Jorge com uma citação ao trio de artistas cariocas Jorge Guinle, Hélcio Jorge Barros e Jorge Duarte. E a única amazona entre o quarteto cujo repertório exibe diálogo com a permanência da pintura e não se abstém da transgressão é Clara Cavendish.

Engajamento, sociabilidade e a política atravessam a vida dos artistas e também do público no tempo presente. Como ficar alheio a este momento em que a própria prática artística pode ser compreendida como um tipo de discurso estético-político? Como afirma Jacques Rancière em “O Destino das Imagens” (Editora Contraponto, RJ – 2002, p. 98), “o plano ideal do quadro é um teatro da desfiguração, um espaço de conversão onde a relação entre as palavras e as formas visuais antecipa as desfigurações visuais ainda por vir” (em 25 de agosto de 2018).

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