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“NOVA EBA: PROPOSTA PARA UTILIZAÇÃO DO ARMAZÉM 7 NO CAIS DO PORTO” é o título do vídeo postado há alguns dias no Youtube pela Comissão para uma Futura Sede da Escola de Belas Artes (EBA) da UFRJ (https://www.youtube.com/watch?v=SKllBTSMZSY&feature=youtu.be). Ao final da animação vemos um quadro comparativo entre a área total construída da EBA na Ilha do Fundão (8800m2) e o espaço disponível na região portuária: 8400 m2. Não há dúvidas: o espaço é vantajoso pela grande visibilidade artística onde concentram-se diversas atrações culturais como o Cais do Valongo, Boulevard Olimpico, Museu do Amanhã, MAR e Cidade do Samba. Por outro lado, o estudo preliminar desconsidera a área total ocupada hoje pela EBA no Centro de Letras e Artes: fica a dúvida se somente o Armazém 7 comportaria toda a estrutura existente na Ilha do Fundão.

O espaço para a realização de atividades artísticas é um tema sempre presente em artes visuais e tornou-se pauta em um ano marcado pelo “Ocupa MINC”, “Fica SECRJ” e também pela defesa da arte na escola. Neste turbulento 2016 as comemorações pelo bicentenário da Escola de Belas Artes da UFRJ estão ofuscadas pelo incêndio em sua atual sede no mês de outubro: o prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Ilha do Fundão popularmente conhecido como “Reitoria”. A paralisação das atividades acadêmicas durante várias semanas explicitou um problema que se arrasta há quarenta anos: a inexistência de um edifício próprio a altura da mais tradicional escola de Artes Visuais do Brasil. O vídeo acima, fruto da iniciativa da comissão de docentes da EBA encontra eco em uma parcela de estudantes insatisfeitos com promessas não atendidas pelo REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Basta relembrar o ato na inauguração da exposição “Escola de Belas Artes 1816-2016: duzentos anos construindo a arte brasileira” em 11 de novembro: vestidos de preto, aos gritos de “cadê o prédio?”, os alunos marcaram presença e o ambiente ficou tenso.

Além da delicada questão de infraestrutura agravada pelo incêndio esta legitima reivindicação não se separa da atual conjuntura política. O relatório da Comissão Nacional da Verdade evidenciou a repressão do golpe cívico-militar de 1964 aos sindicatos, movimentos sociais e universidades. Na Escola de Belas Artes da UFRJ, a cassação de três docentes – Quirino Campofiorito, Abelardo Zalular e Mario Barata – provocou um grande trauma aprofundado pela transferência em 1975 da imponente sede da Avenida Rio Branco, onde hoje localiza-se o Museu Nacional de Belas Artes, para a invisível Ilha do Fundão, a partir de decisão que refletiu o conturbado momento da época. Neste sentido, a edição do Jornal do Brasil de 7 de abril de 1976 é esclarecedora: “A FUNARTE estará instalada na sua sede, na antiga Escola de Belas Artes, dentro de um mês. A Escola mudou-se para o Fundão há mais de um ano, e, por entendimentos entre a FUNARTE e a Diretoria da Universidade, o prédio foi entregue a área cultural do MEC. O Museu de Belas Artes ali localizado terá aumentada em 100% sua área útil para exposições e outras atividades e a fundação ocupará apenas algumas salas, não prejudicando em nada o funcionamento do museu”.

À título de reparação do golpe sofrido pela Escola de Belas Artes durante a ditadura, além da zona portuária, a cidade oferece outras possibilidades como o retorno ao prédio do Museu Nacional de Belas Artes ou a antiga Casa do Estudante Universitário (Colégio Brasileiro de Altos Estudos).  Há também uma outra alternativa: o Palácio Gustavo Capanema. Trata-se de um prédio federal cujo entendimento para a sua utilização envolve vontade política do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Ministério da Educação/UFRJ.

Outro fator a ser considerado na hipótese de transferência é que o silenciamento da Escola nos anos de chumbo representou o surgimento de novas lideranças na Ilha do Fundão. É o que diz o texto da Professora Angela Ancora da Luz “A Visão Modernista da EBA Pós-Fundão” publicado nos Anais 180 Anos de Escola de Belas Artes pela UFRJ em 1996. Ao mesmo tempo, é necessário prever espaços de diálogo entre a comunidade artística universitária e a sociedade, tais como o Museu Dom João VI, o galpão da pós-graduação em Artes Visuais e também a Galeria Macunaíma. O projeto da nova Escola de Belas Artes na zona portuária é um presente para o Rio de Janeiro, embora apresente algumas interrogações. Até que ponto a transferência da EBA para fora do Campus da Ilha do Fundão não seria uma contradição frente ao Plano Diretor da UFRJ? Neste momento de contingenciamento orçamentário há dinheiro em Brasília e interesse da prefeitura nesta ação? Qual é o papel da arte em um contexto de gentrificação? De que forma a sociedade e os artistas se beneficiarão do projeto? (em 28/12/2016).

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